segunda-feira, 30 de março de 2015

Dos indignados aos ignorados

(um conto de inverno)


Lembro aquele velho conto Cherokee, no qual, um avô ensinava aos seus netos certo significado sobre a vida.
Ele dizia aos cativos: «Uma grande luta está sendo travada neste exato instante dentro de mim. E uma luta terrível entre dois lobos. Um dos lobos é mau – ele é medo, raiva, inveja, decepção, arrependimento, ganância, arrogância, auto-piedade, culpa, ressentimento, complexo de inferioridade, mentiras, orgulho, complexo de superioridade, ego.
»O outro lobo é bom – ele é alegria, paz, amor, esperança, bondade, serenidade, humildade, benevolência, amizade, empatia, generosidade, compaixão e fé.
Esta mesma luta está sendo travada dentro de cada um de nós e de todas as pessoas do mundo».
Depois de refletirem uns segundos uma das crianças perguntou: «Avô, mas que lobo vencerá?»
Ao que o velho índio respostou: «Aquele que tu alimentes».
Desgraciadamente, durante muitos decénios as nossas sociedades alimentaram o lobo mau.
Lembro que em 2007 os gigantes mundiais das finanças viraram em choque.
Anteriormente durante a década de 80 e 90 obrigaram a todas as sociedades ocidentais a suprimir lentamente o Estado Providência ou Estado do Bem Estar, enquanto as grandes multinacionais faziam seu agosto comprando a saldo bens públicos, debilitando o poder sindical e operário, reduzindo salários e prestações sociais...
Lembro que em 2008 quando a banca não pôde seguir vomitando riqueza multiplicada por milhões no casino global bursátil, e depois quando o Deus Mercado decidira atirar ao lixo da história pacotes e pacotes de ações tóxicas... os senhores da banca acudiram aos governos, para que estes fizeram entender às sociedades, que era necessário socializar as suas enormes perdas ou do contrário o sistema quebraria, e todos nos encontraríamos ante um cenário de apocalipse...
Lembro então, com bom senso, os governos representantes do poder popular, com a conivência implícita ou explícita das sociedades (todos devemos assumir nossas responsabilidades, em aquela altura, exceto algumas vozes críticas, a maioria social não protestou ou manifestou discórdia), decidiram assumir enormes défices públicos para engolir, apagar dos balanços negativos os montes de défices privados e a falta de liquidez bancária...
Um tempo depois, mais sobrepostos do susto, esses benevolentes senhores cujas perdas foram socializadas, começaram por atacar sem piedade as dívidas soberanas, por serem, segundo suas palavras, insustentáveis. Obrigando assim aos Estados a pagar-lhes cada vez mais pelos empréstimos que estes mesmos Estados contraíam com a própria banca privada. Por sua vez a sociedade seguia a pagar estes excessos, através da suba direta e indireta dos impostos, assim como de recortes nos programas sociais...
Esquecidos estes senhores de que com nossos recursos, hipotecas, casas, dias de férias, pagamos as suas loucuras, agora obrigavam de novo a toda a sociedade a entregar-lhes, via resgates ou planos de austeridade, as poucas empresas públicas que ainda ficavam vivas: a sanidade a educação, e dizer o nosso presente e o futuro dos nossos filhos; ganhado pelo suor e mesmo, as vezes sangue, dos nossos pais e avôs.
Esse patrimônio publico que nós deveríamos haver resguardado e defendido com amor, bondade e gratitude para aqueles que nos sucederam.
Mesmo lutando bravamente em honra daqueles que nos precederam e tantas lágrimas derramam para obter estas melhoras sociais, está sendo entregue sem o menor pudor a grupos de poder, aliados com a partitocracia governante, sem o menor rubor ou sentimento de culpa.
Ante tal situação de falta de futuro para nossos filhos, milheiros de moços e moças portugueses, a geração melhor preparada do seu país, tal vez em séculos, saíram à rua para reclamar o futuro que lhes foi roubado, baixo o nome popular de «Geração à rasca». Poucos meses depois a mesma geração jovem do Estado Espanhol, num movimento mais prolongado no tempo, mais consolidado, menos espontâneo e melhor organizado, reclamava aos berros, igual que seus amigos portugueses, em todas as línguas, culturas e identidades das que se compõe este estado, o mesmo direito a viver, esta vez baixo o título de «Indignados».
Uns meses depois acordamos diante da televisão, com imagens de extrema violência, procedentes de Londres.
Enquanto a «geração à rasca» e «os indignados» são formados, em sua gene, por grupos de estudantes universitários, com diferentes e divergentes, formações académicas; os jovens e adolescentes londrinos, surgiram dessa massa mais dorida da sociedade, dos locais e cantos mais escuros, dos becos ignorados e os olhares esquecidos das chamadas «pessoas de bem».
Filhos, em sua maioria, de imigrantes de 1ª ou 2ª geração, «os ignorados» são o fruto de decênios de capitalismo selvagem, que levou consigo o desaparecimento dos modos de vida tradicionais, pesqueiros e agrícolas, que quase desde o Neolítico, sustentava a maior parte das populações do planeta. Massas de mão de obra barata que foram removidas para os subúrbios das cidades. Ou bem transportadas como mercadoria, pelas máfias opulentas do mercado da carne humana, desde os pólos mais pobres da terra às metrópoles mais opulentas; enquanto as grandes companhias multinacionais ficavam com hectares de terra produtiva para consolidar seu império alimentício. No transcurso desta transação os migrados perdiam a independência alimentar, a identidade, a língua, a cultura e ética milenar baseada na Terra e nas formas de vida a ela ligada (os galegos e galegas sabemos bem deste drama migratório); tudo embrulhado num lindo pacote comercial, como um bilhete a ser pago para embarcar no navio do progresso.
Nesta altura do conto, estes filhos e netos da miséria, na sua versão mais escuro, mais cheia de maldade, ódio, raiva contida... destilavam pelas ruas de Londres aquilo que levam dentro e alimentaram, desde quase o berço, esse lobo mau, que tanto nos assusta.
São os filhos da dor: a dor da restruturação familiar, a dor do desemprego, a dor do menosprezo, a dor do racismo, a dor do álcool,  a dor das drogas, a dor dos vídeo jogos violentos, dos filmes violentos, do fracasso escolar. Da perda de velha ética que seus pais trouxeram na sua viagem sem regresso desde seu mundo rural assentado na semente da terra até este mundo «civilizado» assentado na semente do dólar, da libra ou do euro.
Da imensa dor da deformação e de não poder-se reconhecer como um ser realizado nasceram estes filhos da rua.
Do sofrimento que impediu a esses humanos humanizar-se, chegaram estes gritos desgarrados acionados em revolta destrutiva: a deles e de quanto lhes rodeia. Não puderem encontrar seu potencial ou ter possibilidades de realizar-se: sumidos na agonia da dor que por dentro sente a dor...
E agora seguimos a aprofundar essa dor, com as mesmas políticas de entrega do publico a capital privado que tudo transformará em pagos, co-pagos e múltiplos benefícios tirados das escassas rendas que ainda fiquem a outra população empregada, que tem olhado ano a ano não só como baixavam seus salários, senão também sua capacidade de poder de compra, inversão, ou simplesmente manutenção do antigo modelo de vida. Carregando as custas com dividas e hipotecas que dificilmente podem assumir.
Estes cidadãos têm que assistir todos os dias ao triste espetáculo da corrupção dos partidos e seus aliados do sector privado, que doavam grandes quantidades de dinheiro em trocas de certas licitações a miúdo fora da lei... Essa mesma lei que é muito contundente quando dos abaixo não cumprem com o contrato social.
No entanto se em democracia a lei deve ser aplicada com igual rigor a todos os cidadãos este caráter democrático, fica em entredito quando se trata de fazer recair o mesmo peso da lei sobre os malandros das finanças que tanto terrível dano têm causado as nossas sociedades.
Em estes casos os malandros das finanças nem são detidos, nem sequer punidos, por jogar toda nossa riqueza acumulada em gerações: desde nossos aforros, a nossas pensões, as nossas hipotecas e casas, a nossa capacidade para comprar comida, roupa, calçado, ir de férias, a perda da nossa sanidade gratuita e a perda via privatizações do nosso património social: sectores da sanidade a ser privatizados, da educação, dos concelhos... Em fim punidos esses senhores das altas finanças por hipotecar nosso presente e o futuro dos nossos filhos.
Por esta gigantesca violência gerada pelos altos responsáveis financeiros, e pelos jogadores do casino global, contra toda a sociedade, os nossos democráticos líderes não tem nada a dizer, nada a fazer. Além de lamentar-se pelo mal que está a reagir o Deus Mercado. A cima de tudo agora no Estado Espanhol estamos a assistir a tentativa de aprovação duma nova lei que vai limitar o direito democrático a greve e a manifestar-se, para que assim os senhores da partitocracia e seus aliados novos senhores feudais das finanças sejam protegidos da violência verbal e física, ou a simples moléstia sonora de escutar de perto os protestos dos espoliados da rua... Esse mesmo Estado Espanhol com 6 milhões de parados, 2 milhões de exilados econômicos e 1 milhão de meninhos mal nutridos... onde a toda hora os telejornais asseguram estarmos a viver no melhor dos mundos possíveis...
Assim as cousas, e enquanto os banqueiros não assumam suas grandes perdas e as perdas geradas a sociedade, o lobo mau seguirá a ganhar a guerra global, e a escuridão seguirá vigorar por todo o Ocidente, alastrando com ela a toda nossa sociedade.
Tempos escuros se avezinham e os corrompidos em ação, pensamento e alma, seguem comandando e organizando nossas vidas. É tempo pois da sociedade acordar e reclamar um acordo global, entre todos os povos, todas as línguas, todas as raças.
Um governo global, uma moeda global, uma ordem nova, onde todas as cores e todas as culturas estejam representadas. Pode não gostar mas essa é a única solução possível.
Algum dia, gostem ou não os senhores escuros, ela chegará... ainda que só seja pelo cansaço global provocado por tanta guerra, ódio, crueldade e violência gratuita... mas ate então quanto sofrimento estamos ainda dispostos a padecer?
... Esta visão pode parecer utópica, mas é melhor que o caos que se avezinha ou as guerras pelo controlo do mundo.
(Publicado em Elipse n.º 2, fevereiro de 2014)
 Arthur Alonso Novelhe (Galiza)
É membro numerário da Academia Galega da Língua Portuguesa. Tem quatro livros publicados, dois livros coletivos. Participou em várias revistas como Agália, Outras Vozes ou Identidades e em jornais digitais como o Portal galego da língua ou Mundo Galiza. Pertence ao Clube dos Poetas Vivos de Galiza.

quinta-feira, 26 de março de 2015

(No) Meio (do) Oriente de Artur Alonso Novelhe

Capa e ilustrações do livro do artista plástico Velpister.



(No) MEIO (do) ORIENTE, Teatro existencial

Com No Meio do Oriente, Círculo Edições publica o seu segundo livro e o primeiro em teatro. Com este número principiamos a Coleção Knosos, pensada para divulgar este género literário. Género de grande projeção nos meios de comunicação e na sociedade pela sua expansão na realidade, por poder ser representado num cenário. Portanto, tem a força do visual e do auditivo. Os sentidos gozam no máximo grau pela perfeição que exprime na representação imaginária, e oxalá num futuro próximo, na realidade.
Somos conscientes do grande labor do autor. Artur Alonso Novelhe, nascido em México e residente em Ourense, ativista no Clube dos poetas vivos, é um profundo conhecedor da arte pechada nas palavras. Quando lemos o seu trabalho, ficamos surpreendidos pelas mentes dos seus personagens. Personagens complexos e esquisitos, dotados da seriedade da vida que pesa como uma lousa mortuária. Estão continuamente lutando com o existencialismo puro; com a solidão, com a morte, com o esquecimento... Em fim, com a eterna pergunta do homínido: O Por quê de estar cá, o por quê de viver, e a sua finalidade na VIDA. A filosofia própria do ser, a mais real e inócua, a mais simples que dá o sentido a tudo o que nos rodeia, é a que está nas páginas deste livro. Um livro comprometido e veraz, e também um estudo do ser humano na faceta mais interior e desconhecida de si próprio.
Nós acreditamos nesta obra, achamos que a sua valia acrescenta o nosso trabalho de edição. Pois, é uma obra muito especial e atrevida. Rompe com os cânones estabelecidos do género e transfigura com delicadeza a dificuldade que tem a sua própria escolha, o mesmo ser, e essa dificuldade multiplica o seu valor. Realça a profundidade do sonho humano.
Com esta edição de teatro, pretendemos escavar nos assustadores fatores sociais. Queremos traspassar barreiras instauradas no tédio e no conhecido. Desejamos saber e crer no Pensamento, Ele é o motor dos homens e mulheres. ELE é o pneu do mundo que se movimenta em si próprio. O Pensamento faz-nos evoluir, pois somos pensamento.

Encomendas no e-mail:circulo.edicoes@gmail.com

sexta-feira, 20 de março de 2015

De luces e tebras

Haikus


Ai! Un lamento
          non dará de comer
senón tortura

***

Casas de seda:
non posuímos máis
do que nos queda

***

O sangue  a sangue
a boa educación
    dá e endereza

***

Neve de abril
cando tiña o sol
xa prometido


(Publicado em Elipse n.º 2, fevereiro de 2014)

Iria Beltrán Gonzalo (Vigo, Galiza)
«Detrás destas pequenas estrofas hai un corazón que latexa, unhas palabras lidas doutros corazóns, coma o de Mario Benedetti, e unha man que escribe o que unha cabeza pensa e sente. Cada verso ocupa o que ocupa nesta mente e colócase nun espazo branco tal cal foi, deste xeito, parido. Xamais pensei en publicar nin sequera un destes poemas. Quedan nas vosas mans, para que mos eduquedes, e con eles, á cabeza, ó corazón».

segunda-feira, 16 de março de 2015

Catedral de Sevilha

Catedral de Sevilha. Fotografia digital.

(Publicada em Elipse n.º 2, fevereiro de 2014)

Vicente Castaño Álvarez (Vigo, 1955. Galiza)
Desde há 20 anos aproximadamente, tira fotografias na procura da arte pela arte. Todo foi por estar dentro dum grupo de amigos, no que alguns deles gostavam muito de fotografar e ficou engaiolado pela imagen.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Ar (de) ti

AR(DE) TI


Teño pirómanos os ollos
e quizais por iso vexo,
vexo incendios
en cada un dos teus sorrisos
e non é o laranxa o que me seduce
nin as sombras que aparecen contra a parede
ou as que creo no espazo non limitado da miña loucura.
Degoiro porque me abras co teu incendio
e se parta en dous esta escuridade. 

I
AR

Partimos da necesidade extrema,
vital intanxible de obrigación
a exixencia rotunda
que tentamos baixar á terra,
derrocar a gravidade
no inxenuo intento de alterar o inevitable
buscándolle complementos do mais curioso.
Abrigada coas preposicións,
a necesidade mitígase
e ao inexplicable vestímolo con métodos para que se explique,
é así como a ansia do baleiro torna un pouco mais concreta.

II
RESPIRAR


Querida inconcreción necesaria,
invisibilidade urxente.
Pouco importa aquí a magnitude da distancia
por que xa tentei verte dende todos os precipicios
e na próxima violación de invadir a túa burbulla,
no medio exacto dun paso de peóns
en vermello
en hora punta.
Pero non ves ti dó que me paraliza no azulado afogamento
de que precise ar de ti
ou a delicada suspensión do teu pronome,
así que arde
e fica sólida partícula en plácida atmosfera,
solidez particular na que os ciclos vitais
me anovan por vez primeira.
-Sempre que non haxa que poñer orde ou cordura.

III
AR DE TI

No teu corpo
habita o ar que preciso
como o mar habita
na cuncha dun caracol mariño,
un puro empeño.

IV
CONTAMINAR

Tiñas bocados de ceo en cada man
e salinidades zumegándoche no peito
que chuchaba coa corrección propia
dun protocolo de páxinas pares.
Eu, que souben onte que era hipotensa
e levaba no bolso impresos,
ditames de esfigmomanómetros,
rexistros desta tensión,
que non rematan de explicarme
porque toda unha vida arrastrándose.
Na boca tiñas etéreo tacto de man
e concentracións gasosas do mais curioso,
espazos para arquexar coa pel toda
e desbotar rancios procesos,
anacronías sistemáticas
de respiración exclusivamente aeróbica.
Innovar no mais básico…
ata que amar tornou insostible desvirtuación da lóxica,
prototipos de insalubridades
e arrastrarse,
evolucións das que saíches con corpo doente
e en mi ficou
o xerme da enfermidade.

V
ARDER

Era máis doado
cando quería só unha aproximación,
dous metros cadrados en deflagrante circunstancia.
-Aproximadamente.
Atmosferas incendiarias
e non esta equilibrada combinación de constantes límpidas
que me renova en cada ciclo que te respiro
e se me falta ar de ti, ai de min!
e de cada poema
no que da segunda persoa preciso.

VI
SEN AR

Volverá o tempo da hipoxia,
sorrisos cianóticos para contentar á familia
e algunha bágoa pola rúa
para que amoleza a dureza
da escena
da partida.
Apertar os dentes e,
sen querer, desfigurar o sorriso.
—Nesta cidade ninguén coñece ás mulleres
que por desexo flaxelado, choran.
Volver lembrar atmosferas que me creaches
e antes de chegar de volta á casa,
co amor frustrado en pranto,
o meu corpo
afoga.

VII
SEN TITULO I

Non quedará o teu nome en fume
porque decantar solideces con paciente man
e ter líquido purísimo,
foi só parte dos obxectivos
deste corpo que respira.
Centrifugarnos
ata asolar as catro esquinitas da miña cama
e acorar en cada vértice
deste polígono en construción,
nave completa que me fas,
ancorada na túa atmosfera.
Filtrar sen medo aos resultados
pero con tal porosidade,
que a separación da materia era improbable.
Premeditar teimuda os erros de cálculo
e mesturarnos por completo…
amar ata a evaporación,
amplificando cada grado
de bo grado
chegando a imposibilidade de reverter os cambios,
ata poder dicir que a combustión foi completa
sen restos aos que asirnos
e respirarnos.

VIII
SEN TÍTULO II

De idade estou feita,
temporalidade indefinida sobre esta liña horizontal,
tamén sobre esta,
pola que aprendín a andar cara adiante
sárta arac e
a veces case sen folgos,
carente de ar no corpo
sen ciclos que me anovasen.
—Na vida non hai segmentos.
Non sei porque este sen ti ir
coma a nena malabarista,
adolescente acróbata
a muller sen rede,
ou a anciá trapecio.

IX
COMEZAR (OUTRA VEZ)

Arde ti,
eu só quero refacerme.
Non renacer como paxaro pagán
nin resucitar como home mortal.
Refacerme coma un crebacabezas,
xuntar de novo cada anaco de min
e deixar de loitar polo pasado que non lembro.
Encher os ocos en negro con algunha foto prestada
ou diagramas de influxos,
calquera das cores dun sistema de subtraccións,
roubarlle algo de cor a calquera obxecto
para verme por fin enteira no espello
e poder dicir aquí estou eu.
—Aquí estou eu.
e a metade de min que se esconde entre os versos.


(Publicado em Elipse nos. 1 e 2, outubro de 2013 e fevereiro de 2014)

Marisol Gándara (Galiza).

domingo, 8 de março de 2015

Estrutura

Estrutura. Fotografia digital.

(Publicada em Elipse n.º 2, fevereiro de 2014)

Vicente Castaño Álvarez (Vigo, 1955. Galiza)
Desde há 20 anos aproximadamente, tira fotografias na procura da arte pela arte. Todo foi por estar dentro dum grupo de amigos, no que alguns deles gostavam muito de fotografar e ficou engaiolado pela imagen.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Mudan as rúas

Mudan as rúas


Miña rúa rúa das Rodas
Miña  rúa Rúa dos carros
Ai!, bo camiño que fun
camiño que fun
alá na ría, miña rúa levaba
na súa horta alá no campo
ata ó chan da marea baixa

Ola!, benquerido amigo, onde vas?
Ola! Mariña, como está vostede?
Así de carcamán na miña vila
non te falo, enfógome no San Mauro
vou no Cabanyal xunto a miña moza
aperta de miña parte, eu querovos moito,
grazas grazas Mariña o teu cariño chega ao porto

Miña rúa rúa das Rodas
Miña  rua Rúa dos carros
Ai!, bo camiño que fun
camiño que fun
alá na ría miña rúa levaba
na súa horta alá no campo
ata ó chan da marea baixa.

E logo agora ónde ondea a gaivota?
de Priorato ao consistorio ata a feira
meu ben faise auga na boca
xa! xa!, entón da Pastoriza ti non falas nin andas
que si!,  que si!, hoxe na mañán cedo de alá volvín
dende a rúa nova do San Mauro fun rúa adiante
ai! rúa das Rodas rúa do meu carro
rúa que fun na miña memoria.

Miña rúa Rúa das Rodas
Miña  rua Rúa dos carros
Ai! bo camiño que fun
camiño que fun
alá na ría miña rúa levaba
na súa horta alá no campo
ata o chan da marea baixa.

(Publicado em Elipse n.º 2, fevereiro de 2014)

Abdoulaye Bilal Traoré (Senegal)