sábado, 30 de maio de 2015

Canela

Canela

Para Rosa,
a estrela que ilumina o meu coração.

O sabor da tua pele
perfumada de canela e amorodos
entala a minha língua
e perco-me entre os teus cabelos de bronze
como um viageiro
nos caminhos da memoria extraviada.

Os pinheiros acompanham-me
nesta soidade imperfeita
e as formigas, curiosas,
observam-me prender outro cigarro.

Como unha cidade aniquilada
pelo passo continuo do sol
onde percorri novas e velhas ruas
animadas todas,
da cidade que olha contra o mar
dos sol-pores azuis e laranjas
e unha luz concutida, regular e constante.

Assaltas os meus pensamentos á noite
nos segundos mais inesperados.


7 de setembro de 2012
(Publicado em Elipse núm. 2, fevereiro de 2014)

Alexandre Insua Moreira. (Vigo, 1978. Galiza)
Foi colaborador na edição das revistas Panta Rei, Sirxe, e Cen Corvos de Xallas e coordenador editorial da revista Máis que palabras. Pertence á Junta Diretiva da Asociación Cultural O Castro de Vigo. E é o delegado para Galiza da revista Lavra... Boletim de poesia (Porto).
Livros coletivos: 18 - Unha antoloxía de poesia galega-portuguesa (2012), Doces Loucuras - Louvor aos sorrisos. Colectânea Poética (2013), Meis é poesía (2013).
Está Licenciado em Filologia Galega e em Filología Hispânica, e especializado em Linguística Geral pela Universidade de Vigo. Blog pessoal:  Impostura de fumador
http://imposturadefumador.blogspot.com.es/

terça-feira, 26 de maio de 2015

Olhadas

Fotografia digital

«A regiom do rio Omo em Etiopia é umha das mais ricas do punto etnográfico de todo o mundo, nela habitam gentes Mursi, Karo, Surma, Hamer, Daasenech, etc... A fauna e as paisagens da regiom também som de gram valor.

Lamentávelmente os imperialismos européio   e asiático podem estar ponhendo em perigo estas culturas. Compre dizer que estando perto do Sudám do Sul  e o facto de ser um lugar remoto onde o estado etiope tem pouca presença, fai que as tribus estejam armadas e seja “normal” que portem os seus onipresentes Kalashnikov.

A escena da foto acontezeu quando realizava umha caminhada cedo pola manhá e atopei esta aldeia Karo quando estavam a fazer o pequeno almoço».

(Publicado em Elipse núm. 2, fevereiro de 2014)


Alfonso Díaz [Fóni]. (Ponte Vedra, Galiza)
Tem realizado viagens por gram parte da África, Asia e América. Aficionado à fotografia de viagens e de natureza.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Mundo invisível

Mundo invisível. Fotografia digital.

Na hierarquia do mundo invisível
criaturas mágicas de tronco ardente
calcando os pés sobre o musgo de lava
irrompem para o banquete à hora marcada.

A bruma dos dias já vai avançada
no cume redondo de outras profecias
a música dança no silêncio que brame
levando para longe o sonho terrível.

Deuses e pátrias dormem esquecidos
crepitando no lume brando das obras
ouvem-se à distância os longos gritos
dos Homens que ansiosos as descobrem.

A fé que os salve das coisas belas e boas
a visão que os cubra e os proteja
na Terra que deles reclama toda a seiva
não há lugar para quem não acredite.

O mundo invisível desperta
para a vida que merece ser vivida
na fogueira dos mastros incendiados
pela copa dos feitiços à espreita.

(Publicado em Lisboa núm. 2, fevereiro de 2014)

Pedro Polónio (Lisboa, 1967. Portugal)
(Foto) Trabalha nas áreas da informática. Dedica-se também à fotografia, com trabalho nomeadamente em fotografia de cena e fotojornalismo. Web pessoal:
http://pedropolonio.weebly.com/index.htm
J. C. Jerónimo. (Lisboa, 1973. Portugal)
Psicoterapeuta, poeta e declamador, nascido em 1975. Fundador da revista Acumen, com 5 fanzines editadas. É responsável pela tradução para a língua portuguesa de autores da escola surrealista francesa e da geração beat. Poeta convicto, J. C. dinamiza projectos artísticos e envolve-se na constituição de associações culturais, enquanto membro fundador. É psicólogo e desde então dedica-se a pensar e a descobrir novos universos. Com a Sara repensa-os e redescobre-os, e os dois propõem-se desbravar caminhos inauditos nas lides poéticas. Juntos, formam uma das duplas de autores mais inventivas da nova poesia contemporânea portuguesa.
www.volte-face.conflitoestetico.com

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Ronda dos traidores

Ronda dos traidores

Povos traídos já o foram muitos.
De gregos a romanos a mais de muitos centos
todos foram incorporados no grande índice
dos bichos que sentiram a lâmina na goela,
ou a entrar nos flancos para que não pudessem
ser o quanto queriam nos seus sonhos débeis.
O mal é esse mesmo, que possa a traição
grudar-se aos ossos e os mentecaptos
se sirvam dela nos banquetes férteis
em que de lampreia e faisão se embrutecem,
enquanto nos baldios a pobreza cresce.
Contudo, os brutos serão sempre os outros,
que ao longo da história se omitiram
por um gesto em falso ou um maligno passo,
ou até mesmo um decreto do senado.
Ou dormiram demais, ou no seu sono leve
trabalharam muito para que a indulgência
lhes custasse a família, os filhos, o sustento
e fossem retalhados como cordeiros mansos
que das regiões claras só podem conhecer
a escuridão infrene que os aniquila.
Traídos os traidores da ousadia
de permanecerem traídos para sempre
melhor seria que sangrassem dos ouvidos
ou que a boca de raiva lhes espumasse
pelas lídimas trafulhices de que são vítimas.
Ainda assim, não se passa nada. À vida
vão uns tantos para sofrê-la, a ranger
os poucos dentes ralos e a pôr as unhas
a salvo de qualquer lima, que está caro
o aço e nada é mais diverso
do que querer-se algo e nada se fazer
para que alguma coisa mude para que tudo
fique tal como estava antes do que se quis
mudar no âmbito das pirâmides
ou dos jardins suspensos. Traidores, portanto,
é o que mais há nas longas multidões
que os povos significam, ajoelhadas
bestas que aqui ovacionam e mais além
irão querer linchar sem que para isso
tenham paixão bastante. Dúvidas há
de que sejam homens, ou que da sua
espécie a humanidade seja em seu ardor
e escala de ansiar o pão, a paz, a liberdade,
sem que, no entanto, alastrem pelo mundo
a reclamar a luz que deveria pertencer-lhes.
E ainda falam do tempo irrepetível,
dos becos sem saída, das vozes inaudíveis,
da coroação do espanto, dos mares repletos
de fúrias e desmandos. A uns e outros todos
se vão traindo, cheios de culpa mas nunca
com remorsos de enquistarem assim os corações
nefastos, demasiado puros da pulhice alheia
que só deles mana. Não se lhes cansa o olhar
das grades  que em volta  assestam
as prisões que para si criaram,
danados de requebros não mais do que servis
à espera das migalhas que irão cair
do espavento dos bolsos que alguns benévolos
premeditadamente planeiam denegar
à fome secular e à calamidade.
Melífluo é o combate marcado por recuos,
surtos de aleivosias, suplicações, errâncias,
e a boa-fé fenece entre os traídos, prostrados
sobre a lama que os seus pés abriram
sem que de nada mais se arroguem que a traição
que lhes corre no sangue e lhes domina o espírito.
A uns e outros se abatem pelas costas.
Os de cima os de baixo e os de baixo
os de baixo, que é sempre a cair
que há-de ficar-se em coisas de ignomínia,
ou nas sujeições ignóbeis da desgraça,
ou no destemor que alguns da covardia
sacam, havendo sequazes e facas disponíveis,
usadas com perícia  a perorar
as circunstâncias graves em que se vive
num território de recursos parcos.
Traidor é sempre quem trair se deixa,
atento ou desatento à luz dos anos,
pasmado ou exaltado no seu entusiasmo
de ser sem terra, ou ter sido dela
há muito expulso, ou ser seu pasto
em vida como o será quando for morto,
a privar com os vermes que, afoitos,
em cada aresta sopesam o momento
para abocanhar a carne das ovelhas
que, cegas e ordeiras, transitam
no foco de infecção  para que alastre
a irredimível doença de que todos
sofrem. Ah, os rostos giram
nas quadraturas dos séculos, vãos uns
ceder e outros descompor-se, outros
empenham a palavra e voltarão com ela
atrás,  pelo caminho ínvio, ainda outros
murmurarão a surdina entorpecente
de um rumor, de uma conjura, de um juro
que se cobra, de uma mácula caída
sobre a melhor nódoa, de uma arma aperrada
contra o dilecto amigo, de um rei que abjurou,
de um crente que se fiou, do alento
de um homem que a si mesmo se traiu,
assim como traiu os seus mortos antecedentes
e consequentes, em velhas e novas gerações 
de traidores no comum descampado
dos tempos indizíveis, coberto de fósseis e sangue
ressequido. Ah, todos traímos a infância, o menino
selvagem, o castanheiro espesso, o regaço
de quem nos olhou  pela primeira e pela última
vez como um filho querido e nos deixou partir
para a imobilização, a providência, o sossego,
a contagem incólume dos cabelos,
o beijo na face e a mão sobre o ombro,
a candura aos portões da Babilónia, os catorze
mil cegos que Samuel viu arrastar-se
nas montanhas da Macedónia a caminho de Ohrid,
vítimas estes da traição que a fereza é.
É desse lixo que os monturos se ampliam,
traição sobre traição sem mais remédio
do que ver o mundo a dissipar-se nos resquícios
da compaixão, do nojo, da bondade.
E no horizonte crespo o deserto amplia-se,
passam os comboios mas tudo está perdido,
o mar adensa-se e as traições
progridem, obsessiva e suja
a noite cobre tudo a ocultar quanto se fez
de criminoso e baixo e se sepulta nos bustos
de estuque que as galerias mostram,
um rol de heróis que a própria mãe venderam,
sem mais consolo do que viverem disso,
por um domínio, um lugar, uma quantia,
uma vara de porcos, castrados e cevados.

(Publicado em Elipse núm. 2, fevereiro de 2014)

Amadeu Baptista. (Porto, 1953, Portugal)
O seu primeiro livro de poesia, As Passagens Secretas é de 1982  - publicou até à data mais de 30 títulos, entre poesia, prosa e livros para a infância. O seu original «Um pouco acima da Miséria» foi, em 2013, Prémio de Poesia Cidade de Ourense.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Janela Aberta, umha abertura para o ar e para a luz

Janela Aberta, umha abertura para o ar e para a luz


Era sabedora do talento criador de J. Alberte Corral como poeta mas agora descubro-o como criador de estórias. A sua escrita conta de jeito ardente e à vez melancólico a realidade múltipla dos homens e mulheres que habitam nos seus relatos onde ficçom e história estám entreverados para constituir um universo cheio de humanidade.
Porém, muitas vezes essa realidade é distorcida para nos conduzir a espaços oníricos ou mágicos nos que ecoa a mitologia galega. Na descontraída escrita das estórias de Janela Aberta o ser humano é a sua raizame. Som narraçons embebidas da experiência e da observaçom que possuem umha olhada onde o sonho e  a realidade se vencelham numha inventiva memória que se destorce polos territórios do humor e a ternura.
Além de umha grande sinceridade na sua escrita, percebe‑se que Corral Iglesias conhece bem os universos da sua narrativa, suas imagens som nuvens de galáxias mas que estrelas, graças a sua pluridimensionalidade, venhem sendo parte essencial do próprio mirar e pensar do escritor.
A psicologia das personagens, evoluindo e fazendo-se notar, dam-nos a ideia de onde e porquê se produz a estória. Como observador atento sabe das circunstancias com as que nos toca coabitar, em muitos dos textos agromam imagens da dureza na que se desenvolve a vida dos humildes.

Sem nunca abdicar da ficçom, percebe-se na narrativa de Janela Aberta umha realidade recriada como imaginário dos protagonistas. Existências nas que o autor se afunde, mergulhando-se nas constantes essenciais do homem: dignidade, esperança, tristura, valor... húmus sustentador das personagens que agem nos relatos.
Vivem, habitam em situaçons às vezes duras, às vezes prenhadas de senhardade ou misturadas ambas; construindo-se assim uns textos prenhados de humanidade, nos quais a certeza pungente do cotiám nom sonega a irmandade imprescindível e necessária para a emancipaçom dos párias da Terra.
Se o único crime de todo autor é a mediocridade, nada da mesma, podemos afirmar sem nos trabucar, existe no dizer de Corral Iglesias.
(Publicado em Elipse núm. 2, fevereiro de 2014)
Carme Terrafeito Aenlhe

domingo, 10 de maio de 2015

Liberdade

Liberdade


Et par le pouvoir d'un mot
Je recommence ma vie
Je suis né pour te connaître
Pour te nommer

Paul Eluard
Na lembrança de Manolito Belho Parga

Necessito-te, chamo por ti desde esta escuridade, em cada instante da minha existência, sonho que agromarás como vermelha papoula e todo me é mais aturável. Sei-no, sei que te alcançarei. Nom me perguntes, sei-no e avonda.
Acima, pola pequena luzeira, alvisco a claridade do mencer, entra devagar, amodinho, como se nom me quisesse espertar. A luz sempre é mais formosa no seu nascer...., às vezes penso que é a única beleza que nos deixárom: os roivéns e os lubricáns abraiam-me, sempre som novos e diferentes. Que nom saibam desta formosura! roubariam-no-la como fizérom com todo; para eles só tem sentido o dinheiro e o poder. Todo no-lo saqueiam, a mocidade, a inteligência, a vida...., só ossos e músculos nos deixam, ossos para suportar e músculos para trabalhar...
Lembro-me como se o estivesse fazendo agora mesmo; ela já estava na cozinha havia um bom pedaço, aguardava por mim para me dar o almoço... Saim da casa, levava o compango na velha tarteira para logo o quentar ao meio-dia. Com a friagem caminho de pressa cara a paragem do autocarro...
Alto ou disparo! disparou o mui filho da puta. Depois os socos, os baloucaços, as patadas, o interrogatório.... Agora aqui.
Ouço os passos, sempre venhem olhar polo buraco da porta ao findar o toque do cornetim; e som filhos da mesma mae...! Da fame..., porcos....!
Apesar de todo, acadarei-te, sei-no. Todos nós, os párias, faremos-te nossa e jamais nos abandonarás: 
Liberdade.

(Publicado em Elipse núm. 2, fevereiro de 2014, do libro Do lusco-fusco)

José Alberte Corral (A Corunha, 1946. Galiza)
Criou-se na bairro de Monte Alto, na Corunha, jogando entre casas de um andar e ruas alegres e luminosas. Logo, saiu trabalhar e deu en Venezuela. Participou na fundação da Agrupaçom Cultural o Facho e militou em organizações clandestinas contra o franquismo, até fugir para o Chile de Allende, Argentina e Venezuela.
Publicou Del amor y la memoria, poesia em castelá (1ª ed.: Ateneo de los Teques-Venezuela; 2ª ed.: Emboscall-Vic) e colaborou com diversos ensaios em distintas revistas de pensamento político em Venezuela. Logo de retormar á Galiza publicou as seguintes obras: Palabra e Memória, poesia (AGAL, Galiza), Acarom da Brêtema, poesia (AGAL, Galiza), Do lusco-fusco, relatos (Baía Ediçons, Galiza), Detrás da palavra, poesia (AGAL, Galiza), Buracos no espelho, relatos (AGAL, Galiza), O livro de barro, poesia (ToxosOutos, Galiza) 

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Oliveira

Oliveira


A sua cor era a da canela-oliva, vinhera de Vigo, o seu nome era Oliveira. O homem conhecera-a num café onde as mulheres bailavam entre elas tangos. Naquela mesma tarde ameiroara-a com um gato vermelho de meninhas púrpuras e perpendiculares. Juntos festejárom o seu encontro no dormitório de cristais azuis até o mencer. Desde aquela habitavam um noutro como se fossem um só corpo.
—Nunca ouvim cantar os teus olhos. Comentou-lhe a mulher.
Ele ergueu-se e chimpou-se na piscina desportiva do quarto e fizo uns longos até complementar os seis quilómetros. Ao sair começou a cantarolar as baladas etruscas que conhecera com o seu pai na taberna de Euleuterio, antigo chofer de Al Capone. Os seus olhos abrírom-se como lumieiras para contemplar a Oda, antiga odalisca do Sultám de Ispaha. Oliveira, espida começou a dançar, o seu corpo parecesse esculpido só para interpretar os cantos de Artabro.
—Nom deixes de cantar, meu amor. Demandou a bailarina.
Os pinheiros rumorosos conformárom a grande orquestra de jazz e as penedias faziam coro com os seus murmúrios. O corpo nu no seu dançar converteu-se no arco da velha mais fermoso que pudesse ser visto, enquanto o recendo salgado das algas marinhas enchia  o universo do salom. Um unicórnio afgano, todo preto, servia vinho branco nos copos das perlas do rocio. Nem os diamantes de Ubuntu possuíam tanto fulgor como havia naquele cristal de orvalho onde barquinhos de papel iniciárom a navegaçom oceânica, todos eles tinham nome de mulher...

(Publicado em Elipse núm. 2, fevereiro de 2014)

José Alberte Corral (A Corunha, 1946. Galiza)
Criou-se na bairro de Monte Alto, na Corunha, jogando entre casas de um andar e ruas alegres e luminosas. Logo, saiu trabalhar e deu en Venezuela. Participou na fundação da Agrupaçom Cultural o Facho e militou em organizações clandestinas contra o franquismo, até fugir para o Chile de Allende, Argentina e Venezuela.
Publicou Del amor y la memoria, poesia em castelá (1ª ed.: Ateneo de los Teques-Venezuela; 2ª ed.: Emboscall-Vic) e colaborou com diversos ensaios em distintas revistas de pensamento político em Venezuela. Logo de retormar á Galiza publicou as seguintes obras: Palabra e Memória, poesia (AGAL, Galiza), Acarom da Brêtema, poesia (AGAL, Galiza), Do lusco-fusco, relatos (Baía Ediçons, Galiza), Detrás da palavra, poesia (AGAL, Galiza), Buracos no espelho, relatos (AGAL, Galiza), O livro de barro, poesia (ToxosOutos, Galiza) 

sábado, 2 de maio de 2015

A roda imorredoira

A roda imorredoira

A roda imorredoira. Fotografia digital

A imagem geométrica, forma uma circunferência
da cor do vinho com arrecendo a traça
É um passado-presente com um sentido que xorde
num isolamento silandeiro na voz do ar

Na madeira errante, escreveu-se a historia
da noite e do amanhecer, com letras perenes
nas árvores genealógicas

Pousada na pedra ainda resoa o som do carro
entre os caminhos, aquelas sendas da nenez
já perdidas no antonte

E roda na memória um filme antigo
cor sépia, e chove um mar com doze invernos
num zigzag temporal

A foto escacha em 100.000 partículas
redondas, figuras dum fotograma
que se nega a desaparecer
...
(Publicado em Elipse núm. 2, fevereiro de 2014)

Carlos Silva  (Portugal)
(Foto) Blog pessoal: munditações.
http://munditacoes.blogspot.com.es/
rosanegra [Rosa Martinez Vilas] (Armenteira, 1974. Galiza)
Livros coletivos: A porta verde do sétimo andar  (2007), Acción Poética Penúltimo Acto (2010),  MULHERES entre poesia e luita (2011), 18 - Unha antoloxía de poesia galega-portuguesa (2012), Doces Loucuras - Louvor aos sorrisos. Colectânea Poética (2013), Meis é poesía (2013), Versos no Olimpo - O monte Pindo na poesía galega (2013), Versus Cianuro - Poemas contra a mina de ouro de Corcoesto, (2013), Alén do silencio (2014).
Ganhadora do terceiro premio de narrativa Manolo Lado com a obra A bruxa das Galanas, (2002). Ganhadora do terceiro premio de poesia Feliciano Rolán, co poemário Vacaloura dos meus soños, (2009). Blog pessoal: Sete Bolboretas verdes.
http://setebolboretasverdes.blogspot.com.es/