segunda-feira, 29 de junho de 2015

Elipse número 6, já chegamos à sexta revista!!


Car@s amig@s,

 A nossa felicidade abrange-se com este número, multiplica-se por  três, a tríade que nos conforma. Pois chegar ao número seis é um feito complexo ou difícil nos tempos que correm. Agora, além de autoras/es da Galiza, Portugal, Brasil e Moçambique, acrescentamos mais um país...Angola. Sempre gratos pelo apoio e o ânimo!!.

Saudações poéticas
Alexandre Insua, Cruz Martínez e rosanegra.


Contamos com @s autoras/es:

Da GALIZA: Adriám Vasques, Augusto Fontam, Alfonso Díaz, Carmen Pereira, Carlos Da Aira, Concha Blanco, Iolanda Aldrei, Xúlio López, Lepota L. Cosmo, Manuel Bonabal, Manuel Blanco, María Jose Fernández, Nesto Fernández, Paco Barreiro, Rochi Nóvoa, Sabela Carballo e Victoria Reboiro.

De PORTUGAL: Agostinho Magalhães, Fernando Pereira, Fernando Fitas e João Rasteiro.

Do BRASIL: Andréa do Nascimento Mascarenhas e Samuel da Costa.

De MOÇAMBIQUE:  David Augusto (Upassageiro), Ildo Ângelo e Narciso Balói.

De ANGOLA: Fernando Mariano dos Santos.

domingo, 28 de junho de 2015

É difícil



It is difficult
to get the news from poems
         yet men die miserably every day
                     for lack
of what is found there.


É difícil
saber das novas através da poesia,
        e aínda assim todos os dias morre gente
                     pela ausência
do que se encontra nela.

(Publicado em Elipse núm. 2, fevereiro de 2014)

William Carlos Williams (1883-1963)
Poeta estadounidense "Asphodel, That Greeny Flower." Collected Poems


 Tradução de Adrían Magro (A Corunha. Galiza)
«Foi nado na Corunha polos seus pais, gente do Val d'Eorras. Além de escrever ficções, dá aulas de línguas e traduz ou isso tenta. Ah, e tem um blogue e é este:
adrianmagro.tumblr.com».

terça-feira, 23 de junho de 2015

Frondosa, fogosa, folhosa, funde-se a fenda num desfolhar

Frondosa, fogosa, folhosa, P&B. Fotografia digital.

Do ventre fumoso das rochas
Irradia toda a luz de um acordar.
Recortes ofuscos, mil tochas
Fulgirão ao nosso passar.
Por fundir assim o baixo fundo
Findarás por me fecundar
E fundir o meu teu profundo
Segundo a brisa que virá para ficar.
Tenho círculos de fuga
E rectângulos para forjar,
O meu triângulo é cor rubra
No teu quadrado de fabricar.
Frases, traços e compassos
Afrontarão com força o entronar.
Coroar somente a mente com passos
Que dizem quem neles está a andar.
Quando os fulgores do estio
Bravo nos vierem enfim chamar
Rasgaremos curvas no pousio
De que é feito esta terra à beira-mar.
Lânguidos, cobertos de seiva
E cal. As gerações vir-nos-ão saudar.
Calha o sol & infinito que nos enfeita.
Calhando, ainda haverá muito para contar…


(Publicado em Elipse núm. 2, fevereiro de 2014)

Pedro Polónio (Lisboa, 1967. Portugal)(Foto) Trabalha nas áreas da informática. Dedica-se também à fotografia, com trabalho nomeadamente em fotografia de cena e fotojornalismo. Web pessoal: http://pedropolonio.weebly.com/index.htm
Sara Évora Ferreira (Lisboa. 1981. Portugal)
Nasce em 1981 e desde tenra idade que escreve poemas, tendo recebido alguns prémios literários. É psicóloga, psicoterapeuta e paralelamente tem desenvolvido trabalho em várias áreas artísticas, como o teatro, a dança, a música e o desenho. Edita poemas em colectâneas de novos autores, jornais e em magazines de artes e letras. Há mais de uma década conhece o seu parceiro J. C. numa livraria, ao redor da poesia, e desde então os seus percursos pessoais e artísticos confluem. Depois do 11 de setembro de 2001, lançam-se na dinamização de recitais públicos de poesia de intervenção em serões agitados nas noites do Bairro Alto. Um dia, resolvem fazer um volte-face de voz própria.
www.volte-face.conflitoestetico.com



sexta-feira, 19 de junho de 2015

Levou-s'a velida

Levou-s'a velida

B 1188, V 793
LP 134, 5

[Levou-s’aa alva], levou-s’a velida:
Vai lavar cabelos na fontana fria.
 Leda dos amores,
 Dos amores leda.

[Levou-s’aa alva], levou-s’a louçana:
Vai lavar cabelos na fria Fontana.
 Leda dos amores,
 Dos amores leda.

Vai lavar cabelos na fria Fontana;
Passa seu amigo que [a] muit’amava.
 Leda dos amores,
 Dos amores leda

Passa seu amigo, que lhi bem queria:
O cervo do monte a augua volvia
 Leda dos amores,
 Dos amores leda

Passa seu amigo que a muit’amava:
O cervo do monte volvia [a] agua.
 Leda dos amores,
 Dos amores leda
(Publicado em Elipse núm. 2, fevereiro de 2014)
Pero Meogo. (sécs. XIII-XIV)
Jogral galego de que não se tem quase informação. Sabemos que deve ter sido contemporâneo do rei D. Dinis, já que este rei-trovador compôs uma cantiga de seguir que está relacionada com cantiga de Meogo Levou-s´a velida e que permite a reconstrução da lacuna textual.  Conservam-se nove cantigas de amigo da autoria de Meogo.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Sem título

Panamá, Paitilla. Fotografia digital.
Derramo edificios húmidos polos ollos
e con eles limpo os mocos que saen con carie
para vernizar as cancelas das capelas con carriza
Entre as gretas que deixan os trevos de catro follas
sego as lagañas dos seus portais sen número
retello as camas dos cuartos de defuntos
e con elas lapido as patenas das comuñóns
Sirvo nelas as cascas das olivas maceradas
muxindo a pel dos pandeiros viúvos
Derramo un lar de leña murcha edulcorada
e con el limpo o queixo que xa ten barbas
para golsar o pus das hipotecas con felpudo
Entre as gretas que deixan as pegadas das pantuflas
semento cobiza do mercado de avaros
esparexo vermes para a próxima necrolóxica
e con eles gratino os doces da sobremesa
Sirvo con eles grolos de extremaunción
nesgando a lingua do toxo verde
(Publicado em Elipse núm. 2, fevereiro de 2014)

Moncho Iglesias Míguez (Vigo, 1974. Galiza)
Licenciou-se em Filologia Hispânica e está a fazer a sua tese de doutoramento comparando contos de tradição oral palestinos e galegos. Ministra aulas de espanhol na Universidade de Sichuan e, anteriormente, na Universidade de  An-Najah, em Palestina, trabalho que combina com a escrita literária e jornalística, e com a tradução. Colabora habitualmente com revistas como Tempos Novos e Dorna e no jornal digital Praza pública.
Entre as suas obras figuram títulos como o poemário Oda ás nais perennes con fillos caducos entre os brazos (2007), o romance Tres cores: azul (2009), os poemários Pedras de plastilina (2012) e Abuelita-Aboiña (2013) ou as traduções desde o hebreu O condutor de autobús que quería ser deus (2006) e Saudades de Kissinger (2011), e de Mahmud Darwix, a partir do árabe: Carné de identidade (2012).

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Lua no vento

Lua no vento


Mae, tenho medo
de que tes medo filho?
tenho medo da noite
da lua, da nuvagem,
e do vento que lá fora
sopra
tenho medo do dia
que há vir e nom conheço
tenho medo do demo
que joga com os meus
desejos
tenho medo do mar
que ao se enfurecer
ergue ondas enormes
que chegam con força à terra
e nom dorme
tenho medo do sol
porque pode queimar
nom deixa de quentar
e o mar nom chega
para apagar sua teima
tenho medo da escuridade
porque nela nom vejo
os olhos que despreçam
meu universo
tenho medo ao falar
porque as minhas palavras
há quem nom as compreende
nem ama
tenho medo dos nevoeiros
que embebedam o ar
e impedem ao galo no
amencer cantar
tenho medo da noite
e do seu silêncio obscuro
que ofusca meu olhar
tenho medo da chuva
que molha meu rosto
escorrega na pele
enfriando meu corpo
tenho medo das sombras
e das pantasmas
que bailham danças
na madrugada
nom tenhas medo neno
nom há nada na noite
que te poda fazer mal
nem o mar, nem nevoeiros,
nem o sol com seu quentar
nem a lua que vai no vento
todos os dias caminar

(Publicado em Elipse núm. 2, fevereiro de 2014)

Belem Grandal (Galiza)
Esta permanente aprendiz de escritora desenvolveu ao longo do tempo um vínculo muito forte e permanente com a Galiza, sua Pátria, e com a sua cultura e a expressom fundamental desta, sua lingua, como dous referentes fundamentais que determinam seu  acontecer quotidiano. Dous aspetos da mesma realidade que alimentam e nutrem a sua existência e sem os quais nom teria qualquer sentido a vida quer no âmbito individual quer no social.  Porque qualquer auto-ódio à Pátria, qualquer menospreço à cultura e qualquer despreço pola lingua nom som mais do que síntomas da baixeza moral e inteletual dum povo, da sua minoridade, da sua ignomínia, enfim, da sua falta de dignidade. Porém, malia morar longe da sua Pátria, jamais renunciará às suas origens, a sua identidade, além de levar consigo com orgulho à pertença a umha comunidade que desde há muitos séculos tem o firme convencimento de que é preciso atingirmos umha soberania e independência real para nossa naçom só através dumha mudança total deste injusto sistema que até o de agora impediu nossa libertaçom.

domingo, 7 de junho de 2015

Amaranta non ten nome

Amaranta non ten nome

 (Villanesca)

Amaranta abriulle as pernas á noite,
cun laio mudo como melodía;
cando aínda o sol asomaba polo horizonte.
Escondía no seu rostro unha malleira de morte,
despois de se decatar de que o seu amor tan só mentía;
Amaranta abriulle as pernas á noite.
Pechou os ollos, tragou saliva, e intentou ser forte,
narcotizando o corpo e a mente contra aquela agonía;
cando aínda o sol asomaba polo horizonte.
Renunciou a pensar no fado que unha sente,
sabendo que ao cabo das horas ata o demo a penetraría;
Amaranta abriulle as pernas á noite.
O querer da súa vida pasou ben quente,
cunha violencia que nin a máis curtida soportaría;
cando aínda o sol asomaba polo horizonte.
As bagoas inundaron os recordos da súa mente,
afogando consigo un devir de porquería;
Amaranta abriulle as pernas á noite,
cando aínda o sol asomaba polo horizonte.


(Publicado em Elipse núm. 2, fevereiro de 2014)


 María Alonso Alonso. (Vigo. Galiza)
«Son unha das malas herbas que abrollou en Matamá, na veciñanza de Vigo, nunha primavera ao cabo da infame década dos setenta; aínda que nestes momentos estou a vivir en Edimburgo, lugar do que vou e veño aos poucos para intentar paliar a saudade que acompaña a morriña por estar lonxe da miña xente. Despois de estudar filoloxía e de rematar os meus estudos de posgrao na Universidade de Vigo, comecei a revisar algúns textos que tiña esquecidos no cartafol da miña memoria, dándolles forma e enviándoos a diferentes revistas de creación e a algún que outro concurso literario. Un dos meus relatos, “María a Lobiqueira”, foi galardoado no 2012 cun dos accésits do Modesto R. Figueiredo, o que axudou a que non perdese a arela por isto da escrita.»  E-mail:
malonsoalonso@uvigo.es.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Três poemas

Três poemas


É incessante o som dos cascos que antecede a tua chegada. Nesse tempo de aguardo, o sono queima pelas bordas. Eu masco vidros, e sorrio hulha, em meio ao cerco das gardênias. Prometo: desnudar-me-ei para ti, e a minha inocência não cairá com meu vestido.

***

Não volto atrás. Havia o Cristo torturado pelo amor, a mãe transformada em arquétipo da morte, o silêncio que o pai exalava à hora do jantar. Eu desejava essa trindade fincada no garfo, como quem fixa a diáspora nos azulejos de um hospício.

***

Trouxe o sangue à tona, sacralizei a navalha na ferrugem, e conspurquei, com a honra, o leito dos meus irmãos. O mal que crescia em mim como raízes, podaram-no, para que só eu sentisse, no âmago, as arestas: hoje inquietam menos do que a dúvida. Qual deles não praticou o vitupério? Quando me impuseram as suas virtudes condenaram-me à minha verdade.

(Publicado em Elipse núm. 2, fevereiro de 2014)

Camila Vardarac (Brasil)