domingo, 30 de agosto de 2015

Viver com cadeias

Viver com cadeias


Derreteu o sol minhas asas abertas
Nom pudem voar tam longe contigo
meus beiços nom atingirom teu universo
nem esparejim suaves carícias no teu ventre
essa via láctea enchida de estrelas
a me indicar o caminho até teu centro
nó que me prende a ti para nascer de novo
para sementar flores com pétalas de cores
que a calor nom murche no tempo da seca
como tenho de chegar até essa doçura
teu rosto sereno que enfria os calores
que morna o espírito e exala frâgrancias
salgadas e doces, entre noites luares
e mares enchidos de ondas erguidas
que chegam à praia  dançando na areia
valses que deixam pegadas eternas
deuses que jogam entre goços e penas
achega-te  até meu cativo universo
singelo e humilde sem ti estou deserta
sem ti quero esvaziar o sangue das veas
pois viver sem ti e viver com cadeias




Belem Grandal (Galiza).
Esta permanente aprendiz de escritora desenvolveu ao longo do tempo um vínculo muito forte e permanente com a Galiza, sua Pátria, e com a sua cultura e a expressom fundamental desta, sua lingua, como dous referentes fundamentais que determinam seu  acontecer quotidiano. Dous aspetos da mesma realidade que alimentam e nutrem a sua existência e sem os quais nom teria qualquer sentido a vida quer no âmbito individual quer no social.  Porque qualquer auto-ódio à Pátria, qualquer menospreço à cultura e qualquer despreço pola lingua nom som mais do que síntomas da baixeza moral e inteletual dum povo, da_sua_minoridade, da sua ignomínia, enfim, da sua falta de dignidade. Porém, malia morar longe da_sua_Pátria, jamais renunciará às suas origens, a sua identidade, além de levar consigo com orgulho à_pertença a_umha_comunidade que desde há muitos séculos tem o firme convencimento de que é preciso atingirmos umha soberania e independência real para nossa naçom só através dumha mudança total deste injusto sistema que até o de agora impediu nossa libertaçom.
(Públicado em Elipse núm. 3)
 

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Tempo fugidio

Tempo fugidio

Quigeches abrir bem a mao
com grandes ansias por atingir
brilhos que te deslumbravam
poder com o que te seduziam
riqueças que te fascinavam
mais umha mao precisaches
numha já nom tinha cabimento
tudo aquilo que cobiçavas
mas rápido caminha o tempo
nom há  maos que o dé parado
nem por muita vassalagem
a morte fuge do teu lado
e quando a vida se extinguir
ninguém sentirá tua ausência
pois do que cá ficou
outros derom boa conta
de ti só há permanecer
o corpo que  após inhumado
já cheira porque apodrece
nem umha flor nem um beijo
querem os vermes nojentos
nem riqueças que o vento leva
nem maos agora valeiras
coraçons generosos e dignos
som os que prendem  na terra
latejam  forte e se nutrem
do amor, vida e humildade.

Belem Grandal (Galiza).
Esta permanente aprendiz de escritora desenvolveu ao longo do tempo um vínculo muito forte e permanente com a Galiza, sua Pátria, e com a sua cultura e a expressom fundamental desta, sua lingua, como dous referentes fundamentais que determinam seu  acontecer quotidiano. Dous aspetos da mesma realidade que alimentam e nutrem a sua existência e sem os quais nom teria qualquer sentido a vida quer no âmbito individual quer no social.  Porque qualquer auto-ódio à Pátria, qualquer menospreço à cultura e qualquer despreço pola lingua nom som mais do que síntomas da baixeza moral e inteletual dum povo, da_sua_minoridade, da sua ignomínia, enfim, da sua falta de dignidade. Porém, malia morar longe da_sua_Pátria, jamais renunciará às suas origens, a sua identidade, além de levar consigo com orgulho à_pertença a_umha_comunidade que desde há muitos séculos tem o firme convencimento de que é preciso atingirmos umha soberania e independência real para nossa naçom só através dumha mudança total deste injusto sistema que até o de agora impediu nossa libertaçom.
(Públicado em Elipse núm. 3)
 

sábado, 22 de agosto de 2015

Carga

Carga


Carga, Fotografia digital.

Xosé Lois Gil Magariños (Rois, Galiza)
Fai parte da «Corporación Semiótica Galega», http://www.cosega.org.
(Públicado em Elipse núm. 3)

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Desafiuzamento

Desafiuzamento


Desafiuzamento, fotografía digital.



Xosé Lois Gil Magariños (Rois, Galiza)
Fai parte da «Corporación Semiótica Galega», http://www.cosega.org.
(Públicado em Elipse núm. 3)

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Papamóbil

Papamóbil


Papamóbil, fotografía digital.


Xosé Lois Gil Magariños (Rois, Galiza)
Fai parte da «Corporación Semiótica Galega», http://www.cosega.org
.
(Públicado em Elipse núm. 3)
 


sábado, 8 de agosto de 2015

Algures entre o branco

Algures entre o branco


O escritor inventa uma casa
uma mulher desenvolta
mas também os cheiros
os pequenos ruídos da madeira.
a solidão aperta essa mulher,
rasga-lhe gestos incompletos. no
café, aquela música que não queria
ouvir soa de forma límpida
remexendo-lhe o passado.
sai para a rua revoltada: «como
é que isto ainda dói
desta forma?» dir-se-ia
que chora. e é neste momento
que o escritor se emociona,
esquecendo por momentos que
se trata apenas de uma história
em que ele também é
personagem. sorri do seu
devaneio mas deixa-se ficar
no branco quando a mão
que segura a caneta, subitamente,
o deixa de fazer.


Rui Tinoco (Porto. Portugal)
Psicólogo, vive no Porto. Tem publicados dois libros de poesia: O Segundo Aceno (Edições em Pé, 2011) e Era Uma Vez o Branco (Volta d'Mar Edições, 2013). Participou em diversas revistas literárias. Mantém o blogue Ladrão de Torradas:
http://ladraodetorradas.wordpress.com/
(Públicado em Elipse núm. 3)

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O raro par

O raro par


o escritor bate à porta,
pergunta: «é aí
que mora o leitor?»
é uma indagação invulgar,
um pouco desesperada até.
ninguém lhe responde.
no prédio
seguinte ouve até uma
resposta desagradável:
«não, não quero comprar
nada». enfim, não
é disso que se trata. espero
que, para este texto,
alguém desse lado perceba
o que estou a dizer.
é aí que mora o leitor?



Rui Tinoco (Porto. Portugal)
Psicólogo, vive no Porto. Tem publicados dois libros de poesia: O Segundo Aceno (Edições em Pé, 2011) e Era Uma Vez o Branco (Volta d'Mar Edições, 2013). Participou em diversas revistas literárias. Mantém o blogue Ladrão de Torradas:
http://ladraodetorradas.wordpress.com/
(Públicado em Elipse núm. 3)